A nossa vida cotidiana é demarcada pela vida em grupo.
Estamos o tempo todo nos relacionando com outras pessoas. As pessoas precisam combinar algumas regras para viverem juntas. Um funcionário precisa abrir o portão da escola, cujas dependências já estavam devidamente limpas; um professor espera; ao chegar à escola, encontra colegas que também têm aulas no mesmo horário. A esse tipo de regularidade normatizada pela vida em grupo, chamamos de institucionalização.
Fonte:
BOCK, A. M. et al. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia.
São Paulo: Saraiva, 2001.
O processo grupal - Capítulo 15
Estamos o tempo todo nos relacionando com outras pessoas. As pessoas precisam combinar algumas regras para viverem juntas. Um funcionário precisa abrir o portão da escola, cujas dependências já estavam devidamente limpas; um professor espera; ao chegar à escola, encontra colegas que também têm aulas no mesmo horário. A esse tipo de regularidade normatizada pela vida em grupo, chamamos de institucionalização.
Vivemos mergulhados em instituições. O termo instituição é utilizado, de forma corriqueira, para designar o local onde se presta um determinado tipo de serviço — geralmente público, como os serviços de saúde e social. O termo também pode ser empregado para determinadas organizações sociais, como a família.
O processo de institucionalização começa com o estabelecimento de regularidades comportamentais. As pessoas vão, aos poucos, descobrindo a forma mais rápida, simples e econômica de desempenhar as tarefas do cotidiano.
Vamos imaginar o homem primitivo: no momento em que começou a ter consciência da realidade que o cercava, ele passou a estabelecer essas regularidades. Um grupo social que vivesse, fundamentalmente, da pesca, estabeleceria formas práticas que garantissem a maior eficiência possível na realização dessa tarefa.
Pode-se dizer que um hábito se estabelece quando uma dessas formas se repete muitas vezes. Um hábito estabelecido por razões concretas, com o passar do tempo e das gerações, transforma-se em tradição. E o que acontece? As bases concretas, estabelecidas com o decorrer do tempo, não são mais questionadas. A tradição se impõe porque é uma herança dos antepassados. Se eles determinaram que essa é a melhor forma, é porque tinham alguma razão. Quando se passam muitas gerações e a regra estabelecida perde essa referência de origem, dizemos que essa regra social foi institucionalizada.
INSTITUIÇÕES, ORGANIZAÇÕES E GRUPOS
A instituição é um valor ou regra social reproduzida no cotidiano com estatuto de verdade, que serve como guia básico de comportamento e de padrão ético para as pessoas, em geral. A instituição é o que mais se reproduz e o que menos se percebe nas relações sociais. Atravessa, de forma invisível, todo tipo de organização social e toda a relação de grupos sociais. Só recorremos claramente a estas regras quando são quebradas ou desobedecidas.
Se a instituição é o corpo de regras e valores, a base concreta da sociedade é a organização. As organizações, entendidas aqui de forma substantiva, representam o aparato que reproduz o quadro de instituições no cotidiano da sociedade. A organização pode ser um complexo organizacional — um Ministério, uma Igreja; uma grande empresa; ou pode estar reduzida a um pequeno estabelecimento, como uma creche de uma entidade filantrópica. As instituições sociais serão mantidas e reproduzidas nas organizações. Portanto, a organização é o pólo prático das instituições.
O elemento que completa a dinâmica de construção social da realidade é o grupo — o lugar onde a instituição se realiza.
Se a instituição constitui o campo dos valores e das regras, e se a organização é a forma de materialização destas regras através da produção social, o grupo, por sua vez, realiza as regras e promove os valores.
O grupo é o sujeito que reproduz e que, em outras oportunidades, reformula tais regras. É também o sujeito responsável pela produção dentro das organizações e pela singularidade.
Às vezes é controlado, submetido de forma acrítica a essas regras e valores e às vezes é sujeito da transformação, da rebeldia, da produção do novo.
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DOS GRUPOS NA PSICOLOGIA
Quando falamos em grupos, estamos abordando um tema que, de certa forma, é o tema que funda a Psicologia Social. Os primeiros estudos sobre os grupos foram realizados no final do século 19 pela então denominada Psicologia das Massas ou Psicologia das Multidões.
Um dos primeiros pesquisadores deste assunto foi Gustav Le Bon, autor de um conhecido tratado intitulado “Psicologia das Massas”. Pode-se dizer que, de uma certa maneira, os pesquisadores do final do século 19 foram influenciados pela Revolução Francesa. Os pesquisadores se perguntavam o que teria sido capaz de mobilizar tamanho contingente humano, como o que fora mobilizado durante essa revolução.
O que se perguntava no campo da Psicologia era: o que levaria uma multidão a seguir a orientação de um líder mesmo que, para isso, fosse preciso colocar em risco a própria vida. Qual fenômeno psicológico possibilitaria a coesão das massas?
A Alemanha nazista foi um caso surpreendente porque demonstrou até que ponto é possível produzir uma forma de hipnotismo coletivo.
Apesar da Psicologia Social surgir com o estudo das massas, será com grupos menores que se desenvolverá a pesquisa de grupos. Esse desenvolvimento ocorre a partir de 1930, com a chegada, aos Estados Unidos, de Kurt Lewin — professor alemão refugiado do nazismo. Lewin passou a pesquisar no Massachusetts Institute of Technology (MIT) — um renomado instituto americano — onde desenvolveu a primeira teoria consistente sobre grupos. Psicologia Social denominado Cognitivismo. O trabalho de Lewin também influenciou bastante o desenvolvimento de uma teoria organizacional psicológica que, nas empresas, é aplicada no estudo das relações humanas no trabalho.
A possibilidade de aplicação imediata desta teoria ao campo organizacional impulsionou o desenvolvimento dos estudos sobre grupos nos Estados Unidos. Tanto as indústrias quanto as Forças Armadas investiram recursos financeiros na produção de pesquisas que revelassem como os grupos funcionavam e como poderiam ser motivados para o trabalho.
Na década de 30, Elton Mayo realizou uma pesquisa que se tornaria o paradigma dos estudos motivacionais na área organizacional. Aplicada em empresa americana de eletricidade, tinha, como objetivo, estudar a relação de fadiga nos operários a partir de uma série de variações experimentais introduzidas na relação de trabalho, como a freqüência de pausa para descanso, a quantidade de horas trabalhadas, a natureza dos incentivos salariais.
No entanto, Mayo e seus colaboradores depararam-se com um outro fenômeno: o das relações interpessoais (entre os operários, entre os operários e a administração). A observação dessas relações deu novo rumo à pesquisa, que priorizou o estudo da organização social do grupo de trabalho, das relações sociais entre o supervisor e os subordinados, dos padrões informais que dirigem o comportamento dos participantes num grupo de trabalho, dos motivos e das atitudes dos operários no contexto do grupo.
Esta pesquisa praticamente inaugurou a área da Psicologia Organizacional e mudou, consideravelmente, o pensamento sobre os problemas industriais.
A DINÂMICA DOS GRUPOS
Kurt Lewin em suas obras iniciais levantou temas como: coesão do grupo (condições necessárias para a sua manutenção); pressões e padrão do grupo (argumentos reais ou imaginários, manifestos ou velados que seus membros utilizam para garantir a fidelidade dos demais aos objetivos do grupo e ao padrão de conduta estabelecido); motivos individuais e objetivos do grupo (elementos que garantem fidelidade e que estão relacionados com a escolha que cada indivíduo faz ao decidir participar de um grupo); liderança e realização do grupo (força de convencimento— carisma — exercida por um ou mais indivíduos sobre os outros e o tipo de atividade exercida pelo grupo); e, por fim, as propriedades estruturais dos grupos (padrões de comunicação, desempenho de papéis, relações de poder etc.).
Como dito anteriormente, as pessoas vivem, em nossa sociedade, em campos institucionalizados. Geralmente moram com suas famílias, vão à escola, ao emprego, à igreja, ao clube; convivem com grupos informais, como o grupo de amigos da rua, do bar, do centro acadêmico ou grêmio estudantil.
Em alguns casos, a institucionalização nos obriga a conviver com pessoas que não escolhemos. Quando conhecemos nossa primeira classe na escola o ou na universidade, descobrimos que vamos conviver com um grupo de pessoas com as quais não tínhamos nenhum contato.
A essa forma de convívio que independe da nossa escolha chamamos de solidariedade mecânica.
Já a solidariedade orgânica é a forma de convívio na qual nos afiliamos a um grupo porque escolhemos nossos pares. É o caso do grupo de amigos que se reúne nos finais de semana. A afinidade pessoal é levada em consideração para a escolha do grupo.
Nos grupos em que predomina a solidariedade mecânica, geralmente formam-se subgrupos que se caracterizam pela solidariedade orgânica, como é o caso das “panelinhas” em sala de aula ou do grupo de amigos no trabalho.
No campo teórico até aqui mencionado, pode-se definir o grupo como um todo dinâmico (o que significa dizer que ele é mais que a simples soma de seus membros), e que a mudança no estado de qualquer subparte modifica o estado do grupo como um todo. O grupo se caracteriza pela reunião de um número de pessoas com um determinado objetivo, compartilhado por todos os seus membros, que podem desempenhar diferentes papéis para a execução desse objetivo.
Quando um grupo se estabelece, os fenômenos grupais anteriormente mencionados, passam a atuar sobre as pessoas individualmente e sobre o grupo, ao que chamamos de processo grupal. A coesão é a forma encontrada pelos grupos para que seus membros sigam as regras estabelecidas.
Quando alguém começa a participar de um novo grupo, terá seu comportamento avaliado para verificação do grau de adesão.
Os membros mais antigos já não sofrem esse tipo de avaliação e se, eventualmente, quebram alguma regra (que não seja muito importante), não são cobrados por isso. Ocorre que, no caso dos membros mais antigos, é conhecido o grau de aderência ao grupo e sabe-se que eles não jogam contra a manutenção do grupo. Esta “certeza” da fidelidade dos membros é o que chamamos de coesão grupal. Os grupos, de acordo com suas características, apresentam maior ou menor coesão grupal.
Grupos com baixo grau de coesão tendem a se dissolver, como geralmente acontece com associações de pais em colégios. Além de reunirem-se eventualmente, poucos membros participam das reuniões (por isso, carinhosamente chamamos o grupo de “grupo dos que vêm”).
A fidelidade ao grupo dependerá do tipo de pressão exercida pelo grupo em relação aos novatos e aos outros membros visando manter a concepção central, ou seja, os objetivos que levaram à sua fundação. Os motivos individuais são importantes para a adesão ao grupo.
Os objetivos do grupo irão sempre prevalecer aos motivos individuais, mas dependendo desse objetivo, as diferenças individuais poderão ser admitidas. Quanto mais o grupo precisar garantir sua coesão, mais ele impedirá manifestações individuais que não estejam claramente de acordo com seus objetivos.
SOBRE OS TIPOS DE LIDERANÇA
O clima democrático, autoritário ou o laissez-faire (onde o líder deixa as coisas acontecerem) dependiam da vocação do grupo e do estabelecimento de lideranças que os viabilizassem. Assim, um grupo com vocação autoritária necessitaria de um líder autoritário.
Um grupo democrático exigiria uma liderança democrática e um grupo sem preocupações com sua organização, ou não teria liderança, ou teria um líder que não lhe daria direção. O importante desta classificação feita por Lewin foi a descoberta de que os grupos democráticos são, a longo prazo, os mais eficientes. Já os autoritários têm uma eficiência imediata, na medida em que são muito centralizados e dependem praticamente de seu líder. Mas são pouco produtivos, pois funcionam a partir da demanda do líder, e seus membros são, geralmente, cumpridores de tarefas. Os grupos democráticos exigem maior participação de todos os membros, que dividem a responsabilidade da realização da tarefa cora sua liderança.
Este tipo de grupo pode tornar-se mais competente ainda quando sua liderança for emergente, isto é, quando se desenvolver de acordo com o objetivo ou tarefa proposta pelo grupo.
Seria muito extenso e cansativo relatar aqui toda a história das definições de grupo no campo da Psicologia. Mas algumas são muito importantes para quem quiser se aprofundar nesse assunto, como a de Jacob Levi Moreno (Psicodrama), a de Didier Anzieu, e a de W. Bion (visão psicanalítica).
Fonte:
BOCK, A. M. et al. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia.
São Paulo: Saraiva, 2001.
O processo grupal - Capítulo 15